Numa democracia
representativa, desiludida consigo mesma, a abstenção é uma forte
tentação, apoiada por argumentos acerca de democracia participativa
e formas directas desta (e na minha opinião, ambas devem ser um
objectivo prioritário de todos os cidadãos) ganha bastante apelo,
no entanto vivendo numa forma de democracia é unicamente duas
coisas, a forma de se perder direitos, e de deixarmos que poucos
controlem muitos, tal como nos sistemas não democráticos.
Eis vários porquês
de tal acontecer.
1- O mundo não
para por nós, e os restantes vão continuar a muda-lo, a única
questão é se fazemos parte dessa mudança. E sem duvida que uma das
alturas em que mais se pode contribuir para mudar o mundo é aquela
em que todos podem dar o seu contributo expresso. Em todas as
eleições algo muda, mas só os que votam fazem a mudança, só os
que se decidem a mudar através do seu acto é que mudam o mundo, e o
voto é uma das formas mais simples de o fazer.
2- Abdicar de
direitos nunca pode conquistar direitos. Por alguma razão existem
quem esteja desiludido com a democracia representativa, por achar que
esta não respeita a sua vontade e opinião que acha que abdicando do
seu direito de voto as mesmas pessoas que não o respeitaram lhe vão
dar mais capacidade para decidir e afectar o mundo, não só é
contraditório mas é como parar de correr e lutar para pedir
clemência a um psicopata que nos persegue. O sistema suporta a
abstenção e não pára e nada nele obriga a dar mais direitos para
se manter a funcionar.
3- A democracia
representativa, por ser a melhor que por agora temos, é aquela que
nos aproxima e eventualmente levará a novas e melhores formas de
democracia e não será a caminharmos na direcção oposta que nos
aproximaremos destas. Não será com quem decidiu deixar de escolher
que se encontrará a força para fazer mais e melhores decisões,
quando estas têm mais impacto. Não será com aqueles que não
tomaram as decisões relativamente fáceis da democracia
representativa que se terá a capacidade das decisões relativamente
difíceis que nos trará uma democracia participativa. A abstenção
é o caminho para a falta de democracia não para qualquer forma de
democracia, seja ela qual for, pois a abstenção mina o sujeito e a
sua capacidade democrática e com isso mina a sociedade e a
democracia que nesta houver.
4- Um bem menor,
pode não ser o ideal mas se for o único possível é nosso dever
executar esse ao invés de nada fazer. Tal é o caso do voto numa
democracia representativa, pode não alcançar o que realmente
almejamos, mas tem o poder de deixar o mundo um lugar melhor e como
tal temos a obrigação ética de votar para levar o mundo a um
melhor estado de coisas. É o mesmo que um medico, não podendo curar
os dois olhos de um cego se recusa a curar só um, deixando-o cego em
vez de vesgo.
5- Não são todos
iguais. Afirmar o contrario são tretas e desculpas... Com 16
partidos (no caso de Portugal) dizer o contrario é apenas uma
desculpa para não se confrontar os pontos acima e o próprio
sistema, longe de ser perfeito permite o saneamento de quase todos os
seus problemas, para tal basta que se exerça o voto em maior
consciência.
Nada impede de se
participar numa democracia representativa e de lutar para que esta se
torne participativa ou directa, aliás, votar pode ser uma forma de
lutar.
Pode ser uma
espécie de partidocracia, provavelmente é, mas os mecanismos para a
mudança estão primeiro na sociedade que escolhe e se exprime e
depois no sistema que é obrigado a seguir certas formas de expressão
e exercendo o direito que temos, quando o temos podemos controlar o
nosso destino. Mas as vezes também é necessário uma certa coragem
para votar onde se pode fazer a diferença e sem medo da mudança ou
da desilusão.
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